Guaratinguetá até Ubatuba de bicicleta: um relato de vales, montanhas e praias

Lucas Fagundes
5 min readSep 10, 2021

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A vontade de sair de bicicleta pelo mundo é sempre presente. Juntando essa vontade com a necessidade de se desligar da metrópole caótica, nasceu esse rolê. Pensei numa rota que queria fazer há algum tempo e a propus pro meu amigo Daniel, que imediatamente topou. É um trajeto que passa pelas partes mais incríveis do estado de São Paulo.

Foi no verão de 2020 que decidimos carregar as bicicletas e partir, o mundo à nossa espera.

Dia 1 — Guaratinguetá até Paraty — 115km

Na véspera, pegamos um ônibus de São Paulo até Guaratinguetá, e fomos até a casa da avó do Daniel, nossa base e ponto de partida da jornada. No dia seguinte, depois de uma noite de sono leve e um café da manhã farto, partimos às 4 da manhã sob uma névoa baixa que já anunciava o sol que estava por vir.

daniel rana / @daniol.cara

daniel rana / @daniol.cara

Logo as montanhas nos envolveram, e as subidas se fizeram frequentes. Não foi surpresa. Uma rota de bicicleta que começa em um vale e passa por uma cadeia de montanhas só poderia ser para cima. Foi assim durante 60 quilômetros na Estrada Guaratinguetá-Cunha, uma subida longa e gradual. Começamos a pedalar em 500 metros de altitude e agora estávamos nos 1.200. A gente queria subir até ocume da Pedra da Macela, que fica a 1.800 metros e era um desvio de 15km.

A Pedra da Macela fica dentro do Parque Estadual da Serra da Bocaina e é cercada de natureza exuberante. Os primeiros 5km da subida eram de estrada de terra batida. Mas os últimos dois quilômetros e meio tinham o terreno cheio de crateras e pedras soltas e era inclinado pra caramba (variando entre 18 e 22% de inclinação), então usamos todas nossas forças onde dava e empurramos onde não dava.

Ao chegar no topo, sentimos o ar fresco da montanha rodeados de uma fauna muito rica e especial, que só cresce em Campos de Altitude.

Descansamos no cume, que estava com neblina, mas não nos importamos, afinal, só pelo fato de estarmos em um lugar tão cheio de natureza, valeu a pena.

Cume da Pedra da Macela (em dias limpos)

Descemos a Pedra da Macela, voltamos para a Estrada Guaratinguetá-Cunha e cruzamos a divisa entre os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro. Nos aguardava a descida espetacular da Estrada Parque Cunha-Paraty.

daniel rana / @daniol.cara

daniel rana / @daniol.cara

Foram 25km abaixo por dentro da mata úmida, ultrapassando carros sem esforço na estrada de bloquetes. À nossa volta, reinava o bioma da Mata Atlântica de altitude. Chegamos famintos em Paraty e paramos no primeiro PF que achamos. Depois, pedalamos até o Clube de Camping de Paraty, arrumamos nossas barracas e tomamos uma merecida breja na praia. Chegada a noite, eventualmente nos recolhemos para o descanso.

O primeiro dia dessa viagem foi o mais longo e cansativo, mas foi igualmente incrível. Foram 115km, 10 horas e 2.645 metros de ascensão. Estivemos a 1.840 metros de altitude e descemos continuamente até o litoral, experienciando toda a maravilha das montanhas da Serra do Mar.

Dia 2 — Paraty até a Praia da Fazenda — 40km

Percorridos os quilômetros mais difíceis, decidimos que passaríamos o segundo dia da viagem na Praia da Fazenda, em Ubatuba, que fica a 40km de volta à São Paulo. A Praia da Fazenda tem 4 km de comprimento e fica dentro do Parque Estadual da Serra do Mar, portanto é protegida, sendo proibido qualquer tipo de construção ou comércio. Apenas areia e mangue. Só há um camping na praia, o Camping Caracol, que foi onde nos instalamos. Vale lembrar que o camping só funciona por reserva.

Para chegar no camping, tivemos que atravessar com as bicicletas um canal que vinha do mangue e deságua no mar. Mas existe um caminho mais fácil pela BR-101 que dá na portaria do Parque Estadual da Serra do Mar — Núcleo Picinguaba (jogue no Google).

lucas fagundes / @lcsfgnds

Tínhamos tempo pra explorar e vimos vários animais no mangue que fica atrás da areia da praia, inclusive uma cobra Caninana e vários caranguejos azuis e vermelhos.

Durante a noite, caiu uma chuva fina típica do litoral norte do estado, nada que tenha atrapalhado nosso sono.

daniel rana / @daniol.cara

daniel rana / @daniol.cara

Dia 3 — Praia da Fazenda até Ubatuba

Domingo, acordamos tarde e saímos rumo Ubatuba às 13h, num ritmo bem sossegado, como de quem não quer partir. Pedalamos 35km até o centro da cidade.

De Ubatuba, voltaríamos para São Paulo de ônibus, subindo a serra.

O final da viagem se aproximava e, com ele, uma mistura de sentimentos. A melancolia de ter que ir embora. A fascinação pela natureza. A felicidade de estar em lugares incríveis com pessoas queridas, e melhor ainda, de bicicleta.

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